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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A imitação de Cristo hoje


Toda a nossa santificação consiste em conhecer Cristo e imitar Cristo. Todo o evangelho e todos os santos estão cheios deste ideal, que é o ideal cristão por excelência. Viver em Cristo; transformar-se em Cristo… São Paulo: “Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo Crucificado” (1Cor 2,2)… “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)… A tarefa de todos os santos é realizar na medida das suas forças, segundo a doação da graça, diferente em cada um, o ideal paulino de viver a graça de Cristo. Imitar Cristo, meditar a sua vida, conhecer os seus exemplos… O mais popular livro da Igreja, depois do Evangelho, é o da “imitação de Cristo”, mas, de quantas diferentes maneiras compreendeu-se a imitação de Cristo!
I. Maneiras erradas de imitar o Cristo

1. Para uns, a imitação de Cristo reduz-se a um estudo histórico de Jesus. Vão buscar o Cristo histórico e ficam nele. Estudam-no. Lêem o Evangelho, investigam a cronologia, informam-se dos costumes do povo judeu… E seu estudo, mais bem científico que espiritual, é frio e inerte. A imitação de Cristo para eles reduzia-se a uma cópia literal da vida de Cristo. Mas não é isto. Não: “O espírito vivifica; a letra mata” (2Cor 3,6).

2. Para outros, a imitação de Cristo é mais bem um assunto especulativo. Vêem em Jesus como o grande legislador; quem soluciona todos os problemas humanos, o sociólogo por excelência; o artista que se compraz na natureza, que se recreia com os pequeninos… Para alguns é um artista, um filósofo, um reformador, um sociólogo, e eles o contemplam, o admiram, mas não mudam a sua vida diante dele. Cristo permanece só na sua inteligência e na sua sensibilidade, mas não transcendeu a sua mesma vida.

3. Outro grupo de pessoas crêem de imitar Cristo preocupando-se, no extremo oposto, unicamente da observância dos seus mandamentos, sendo fiéis observadores das leis divinas e eclesiásticas. Escrupulosos na prática dos jejuns e abstinências. Contemplam a vida de Cristo como um prolongado dever, e nossa vida como um dever que prolonga o de Cristo. Às leis dadas por Cristo eles agregam outras, para completar os silêncios, de modo que toda a vida é um caminho dever, um regulamento de perfeição, desconhecedor em absoluto da liberdade de espírito.

O foco da sua atenção não é Cristo, mas o pecado. O sacramento essencial na Igreja não é a Eucaristia, nem o batismo, mas a confissão. A única preocupação é fugir do pecado. E imitar Cristo para eles é fugir dos maus pensamentos, evitar todo perigo, limitar a liberdade de todo mundo e suspeitar más intenções em qualquer acontecimento da vida. Não; não é esta a imitação de Cristo que propomos. Esta poderia ser a atitude dos fariseus, não a de Cristo.

4. Para outros, a imitação de Cristo é um grande ativismo apostólico, uma multiplicação de esforços de orientação de apostolado, um mover-se continuamente em criar obras e mais obras, em multiplicar reuniões e associações. Alguns situam o triunfo do catolicismo unicamente em atitudes políticas. Para outros, o essencial é uma grande procissão de archotes, um encontro monstruoso, a fundação de um jornal… E não digo que isto é mal, que isto não se deve fazer. Tudo é necessário, mas não é isto o essencial do catolicismo.

II. Verdadeira solução

A nossa religião não consiste, como em primeiro elemento, numa reconstrução do Cristo histórico; nem em uma pura metafísica ou sociologia ou política; nem numa só luta fria e estéril contra o pecado; nem primordialmente na atitude de conquista. A nossa imitação de Cristo não consiste tampouco em fazer o que Cristo fez, a nossa civilização e condições de vida são tão diferentes!

A nossa imitação de Cristo consiste em viver a vida de Cristo, em ter essa atitude interior e exterior que em tudo se conforma à de Cristo, em fazer o que Cristo faria se estivesse no meu lugar. O primeiro necessário para imitar Cristo é assimilar-se a Ele pela graça, que é a participação da vida divina. E daqui, antes de tudo, aprecia o batismo, que introduz, e a Eucaristia que alimenta esta vida e que dá Cristo, e se a perde, a penitência para recuperar esta vida…

E logo que possua essa vida, procura atuá-la continuamente em todas as circunstâncias da sua vida pela prática de todas as virtudes que Cristo praticou, em particular pela caridade, a virtude mais amada por Cristo. A encarnação histórica necessariamente restringiu Cristo e a sua vida divino-humana a um quadro limitado pelo tempo e pelo espaço. A encarnação mística, que é o corpo de Cristo, a Igreja, tira essa restrição e amplia-a a todos os tempos e espaços onde há um batizado. A vida divina aparece em todo o mundo. O Cristo histórico foi judeu e viveu na Palestina, no tempo do Império Romano. O Cristo místico é chileno do século XX, alemão, francês e africano… É professor e comerciante, é engenheiro, advogado ou operário, preso e monarca… É todo cristão que vive na graça de Deus e que aspira a integrar a sua vida nas normas da vida de Cristo nas suas secretas aspirações. E que aspira sempre a isto: a fazer o que faz, como Cristo o faria no seu lugar. A ensinar a engenharia, como Cristo a ensinaria, o direito…, a fazer uma operação com a delicadeza de Cristo…, a tratar os seus alunos com a força suave, amorosa e respeitosa de Cristo, a interessar-se por eles como Cristo se interessaria se estivem no seu lugar. A viajar como viajaria Cristo, a orar como oraria Cristo, a comportar-se na política, na economia, na sua vida de lar como comportar-se-ia Cristo. Isto supõe um conhecimento dos evangelhos e da tradição da Igreja, uma luta contra o pecado, traz consigo uma metafísica, uma estética, uma sociologia, um espírito ardente de conquista… Mas não se compendia neles o primordial. Se humanamente fracassa, se o êxito não coroa o seu apostolado, não por isso se impacienta. A única derrota consiste em deixar de ser Cristo pela apostasia ou pelo pecado.


Este é o catolicismo de um Francisco de Assis, Inácio, Xavier, e de tantos jovens e não jovens que vivem a sua vida cotidiana de casados, de professores, de solteiros, de estudantes, de religiosos, que participam no esporte e na política como esse critério de ser Cristo. Estes são os faróis que convertem as almas, e que salvam as nações.

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