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sexta-feira, 18 de julho de 2014

As três grandes correntes ideológicas atuais


  Em primeiro lugar, mencionemos a ideia básica da teologia da libertação, que, no fundo, teve eco em quase todos os continentes. Antes de mais nada, é preciso ressalvar que pode ser interpretada num sentido positivo. A ideia fundamental é que o cristianismo também tem de ter efeito na existência terrena do homem: tem de lhe dar a liberdade de consciência, mas também tem de procurar fazer valer os direitos sociais do homem. Mas quando essa ideia é aproveitada num sentido unilateral, procura, em geral, ver no cristianismo o instrumento de uma transformação política do mundo. A partir desse ponto, tomou forma a ideia de que todas as religiões seriam apenas instrumentos para a defesa da liberdade, da paz e da preservação da Criação; teriam, pois, de justificar-se através de um sucesso político e de um objetivo político. Essa temática varia segundo as situações políticas, mas atravessa os continentes.

  Hoje, enraizou-se fortemente na Ásia, mas também na África. Penetrou até no mundo islâmico, onde também há tentativas de interpretar o Corão no sentido da teologia da libertação; são marginais, mas nos movimentos terroristas islâmicos a ideia de que o Islã deveria realmente ser um movimento de libertação - por exemplo, contra Israel - teve um papel fundamental. Entretanto, a ideia de libertação - se pudermos chamar liberdade ao denominador fundamental da espiritualidade moderna e do nosso século - também se fundiu fortemente com a ideologia feminista. A mulher é considerada o ser oprimido por excelência: por essa razão, a libertação da mulher seria o núcleo de toda a atividade libertadora. Aqui ultrapassou-se, por assim dizer, a teologia da libertação política mediante outra antropológica. Não se pensa apenas na libertação dos vínculos próprios do papel da mulher, mas na libertação da condição biológica do ser humano.

  Distingue-se então o fenômeno biológico da sexualidade das suas expressões históricas, às quais se chama “gênero”, mas a revolução que se quer provocar contra toda a forma histórica da sexualidade conduz a uma revolução que também é contra as condições biológicas: já não pode haver dados naturais; o homem deve poder moldar-se arbitrariamente, deve ser livre de todos os condicionalismos do seu ser; ele próprio se tornaria o que quer, e só desse modo seria realmente “livre” e estaria libertado. Por trás disso encontramos uma revolta do homem contra os limites que o seu ser biológico envolve. Trata-se, em última análise, de uma revolta contra a própria condição de criatura. O homem deveria ser o criador de si mesmo - uma nova edição, moderna, da velha tentativa de ser Deus, de ser como Deus.

  O terceiro fenômeno que se observa em todo o mundo - sobretudo num mundo cada vez mais uniformizado - é a busca de uma identidade cultural própria, expressa no termo “inculturação”. Na América Latina, a redescoberta das culturas perdidas é agora, depois de a onda marxista ter diminuído, uma nova corrente forte. A “teologia índia” quer voltar a despertar a cultura e a religião pré-colombianas e libertar-se, por assim dizer, da penetração excessiva de elementos europeus que lhe foi imposta. As ligações diretas com o feminismo são interessantes. Saliente-se o culto da “Mãe-terra” e, em geral, do elemento feminino em Deus, o que acentua as tendências do feminismo americano-europeu, que já não quer apenas fazer afirmações antropológicas, mas reformar o conceito de Deus. Ter-se-ia projetado em Deus a estrutura patriarcal e, assim, fixado a opressão da mulher a partir do conceito de Deus. O elemento cósmico (Mãe-terra, etc.) dessa renovação das antigas religiões conflui depois com as tendências da New Age, que visa uma fusão de todas as religiões e uma nova unidade do homem e do cosmos.


(Cardeal Joseph Ratzinger in ‘O sal da terra’ – págs. 107-109)

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